Muito é dito sobre uma nova subida de preço no mercado de criptoativos. Na última semana houve um aumento considerável na cotação dos ativos, em particular do , e . Entretanto, não parece ser o caso de uma previsão clara: há ainda questionamentos se uma reversão a um mercado lateral pode ser possível. Ondas no mercado financeiro costumam ser difíceis de antecipar, caso contrário todos estariam ricos.

Ainda que o timing dessas ondas seja magicamente previsto, há outra questão: qual a magnitude dela e como vai ficar o valor do ativo a médio prazo? Há investidores de longo prazo e, para eles, o timing é relativamente pouco importante, porém o preço ainda importa. O problema é quando o longo prazo não é tão longo assim e retornos são esperados em janelas relativamente menores. Nesse caso, tanto faz se o ativo aumenta 300% em dois meses se vai cair 70% em duas semanas. A isso se soma o fato da mágica não acontecer: a previsão do timing termina por ser altamente improvável para a maioria dos investidores e parte significativa do valor sumir rapidamente.

No que diz respeito a determinar preços e timings, há também a questão mais difícil dos criptoativos: o que determina o valor fundamental de um Bitcoin? Na falta de um valor fundamental, muitos acreditam ser impossível determinar se um ativo é uma bolha ou não. Até mesmo economistas ou profissionais de finanças costumam ter essa crença algo justificada, no entanto há pesquisa moderna em processos estocásticos sugerindo outros critérios para um ativo qualquer ser considerado uma bolha. Essas metodologias foram, finalmente, aplicadas ao Bitcoin e apesar de inconclusivas dão evidências de que o valor fundamental do ativo pode estar sob o efeito de bolhas.

Os pesquisadores Pedro Chaim e Marcio Laurini, da USP de Ribeirão Preto, conduziram um teste que sugere a plausibilidade da narrativa de que o Bitcoin pode ter sofrido bolhas entre janeiro de 2015 e março de 2018. Por meio de um processo de volatilidade estocástica flexível e sujeito a comportamento de bolha, os pesquisadores estimaram que o Bitcoin se encontra na faixa de parâmetros que configuram um processo não-estável. Para efeitos de comparação, compararam essa estimativa a um modelo tradicional que nunca apresenta comportamento de bolha; os pesquisadores encontraram que a modelagem convencional não era comparativamente adequada para explicar o Bitcoin.

Apesar de ainda estar numa versão preliminar, o artigo se destaca por sua metodologia e se soma a outras contribuições por economistas que botam dúvidas sobre a maturidade do mercado de criptoativos atualmente. Evidências de manipulação do mercado via Tether e confirmações da manipulação no Mt.Gox são exemplos de outros artigos sugerindo instabilidades fortes no mercado de criptoativos.

Dito isso, há duas crenças que justificam ainda investir em criptoativos. A primeira se baseia na crença de que o mercado a longo prazo terá valores que farão as bolhas de agora parecerem quase nada. Os criptoativos ainda não foram tão adotados quanto podem e o mercado – e suas cotações, consequentemente – podem crescer ainda mais. Isso pressupõe um valor fundamental, porém não é uma hipótese desprezível; o contra é se basear no longuíssimo prazo e em prever adoções. A segunda consiste em estratégias que tentam justamente capturar timing do mercado. Modelos quantitativos ou de momentum se destacam nessa tarefa.

Percebe-se que as duas estratégias são arriscadas, porém me parecem o único caminho para rentabilidade nesse mercado. Nenhuma delas passa por simplesmente esperar uma bull-run e tentar aproveitar sem uma boa estratégia de timing de saída. A pergunta, portanto, não deve ser “quando vai começar uma bull-run?”, mas sim “será que acredito que o mercado tem potencial de longo prazo?” e “será que sei quando os humores podem dominar temporariamente o mercado?”. Apenas respondendo honestamente essas perguntas que é possível intuir se vale a pena estar nesse mercado.

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