O Brasil parece estar entrando numa crise séria. Nessa semana, nosso principal índice de ações, o , perdeu cerca de 6%. O superou os 3,90, um aumento de 4% em relação ao começo a semana. Vale notar que o dólar já aumentava consideravelmente desde março. O governo prometeu aos caminhoneiros grevistas subsídios, acompanhados de um forte custo fiscal numa situação já degenerada. Como consequência, juros futuros disparam. Aparentemente, não é um bom momento para ser brasileiro e estar no Brasil.

Ruim agora? O cenário eleitoral parece ainda pior para aqueles que acreditam em teorias mais ortodoxas sobre a economia. Os dois as pesquisas mais recentes – Bolsonaro e Ciro Gomes – têm retórica mais nacionalista na economia. Quem acompanha a história econômica sabe que, normalmente, nacionalismo exacerbado e trajetórias protecionistas costumam vir com controles de capital. E quem sabe de criptomoedas, sabe que não é muito difícil evadir divisas ou evitar o pagamento de impostos atualmente por meio desses ativos.

Ligando os pontos, parece haver um certo risco eleitoral para os investidores de criptomoedas brasileiros. Não apenas os criptoativos surgiram de uma proposta libertária – de certa maneira uma resposta às ingerências estatais na economia – mas também eles são mais afeitos a economias liberais. Naturalmente, (quase) todos os governos tendem a ter certos cuidados e buscam minimizar lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo, havendo tratados internacionais nessa direção e algumas ações contrárias às privacy coins; contudo, há países mais propensos a medidas draconianas sobre criptomoedas.

De acordo com a Wikipédia, na América do Sul há dois países onde há banimento do : Bolívia e Equador. Esses países fazem parte do bloco bolivariano juntamente com a Venezuela, que não baniu. Rússia e China, apesar de constarem como aceitando o Bitcoin, possuem uma série de ressalvas detalhadas no texto. Observando a tabela, a intuição sugere que haveria uma associação entre países com maior espaço institucional para nacionalismo econômico e o banimento do Bitcoin.

O Brasil, como sabemos, é um prato cheio para essas ideologias. Na nossa própria trajetória regulatória no congresso, um projeto inicialmente moderno e compatível com as preocupações dos reguladores europeus teve um parecer tenebroso pelo relator: proibição das criptomoedas. O relator, citando Joseph Stiglitz, um grande economista que apesar de seu Nobel não sabe nada de criptoeconomia e plataformas descentralizadas, diz “a verdadeira razão pela qual as pessoas querem uma moeda alternativa é participar de atividades ilícitas: lavagem de dinheiro, evasão fiscal”. Percebemos, então, que a preocupação com evasão fiscal já está no radar de nossos legisladores. Com uma crise, podemos crer que esse radar apitará ainda mais fortemente.

Portanto, no caso de um candidato mais nacionalista entrar e a economia continuar na rota atual, não creio impossível uma regulação mais agressiva do Bitcoin. Naturalmente, isso é apenas um tail risk: não vejo o Bitcoin sendo tanto o foco dos políticos brasileiros. No entanto, esse risco – ainda algo improvável – me parece mais palpável. Recomendo a todos atenção nessa questão e algum cuidado com construção de cenários eleitorais e alternativas de investimento (cripto ou tradicionais). Sinceramente, não gosto de falar de política profissionalmente (ou fora do meio acadêmico), porém creio que talvez estejamos chegando em onde vale mais prevenir do que remediar no que tange criptoativos no Brasil.

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