Dentre as questões mais intrigantes do e criptoativos em geral, está a identidade de Satoshi Nakamoto. Lançada por um pseudônimo, a tecnologia blockchain e sua implementação, o Bitcoin, permanecem com esse pedaço de sua história obscurecidos. Evidentemente, uma tecnologia para funcionar não precisa de um criador conhecido – perdemos ou ignoramos o nome da maioria das pessoas que desenvolveram grandes inovações – porém no que diz respeito a criptoativos há especulações sobre quem é Satoshi Nakamoto.

Entre os muitos nomes especulados, apenas um acabou por ser considerado por autoafirmação: Craig Wright, um cientista da computação australiano. Com sua falha em confirmar sua identidade, Craig Wright se tornou conhecido com a alcunha de “Faketoshi” e é visto com desconfiança por muitos outros grandes nomes do desenvolvimento de criptoativos. Há críticas feitas a ele por Vitalik Buterin e Emin Gun Sirer, por exemplo, mostrando que não há muita credibilidade em suas propostas seja por outros desenvolvedores core ou por acadêmicos.

Entretanto, Craig Wright foi abraçado pela comunidade do . Na conferência “Satoshi’s Vision”, ocorrida em Tóquio em março desse ano, ele deu uma palestra elogiada no tema de topologia de rede do Bitcoin. Apesar de tecnicamente não ter sido nem de perto algo brilhante ou mesmo no nível de outros conferencistas como Joannes Vermorel, não foi totalmente desinteressante e Craig Wright foi associado ao Bitcoin Cash. Sua empresa, NChain, procura criar soluções on-chain para a Blockchain do Bitcoin Cash, algo consoante com o espírito do fork.

Entretanto, recentemente houve um debate sobre a atualização proposta pela Bitcoin ABC, desenvolvedores do maior cliente do Bitcoin Cash. Essa atualização possibilita a criação de smart contracts relativamente simples no Bitcoin Cash, seguindo a proposta de Andrew Stone da Bitcoin Unlimited escrita aqui. Craig Wright, no entanto, vê problemas nessa implementação, assim como Calvin Ayre, representante da maior mineradora de Bitcoin Cash, com 35% do Hash Power da rede. Nisso reside o problema: desenvolvedores podem propor o que quiserem, quem em última instância vota são os mineradores com hash power e os investidores, com recursos que tornam a mineração atrativa via maiores preços do token minerado.

A princípio, não sou contrário a forks sobre questões difíceis: deixar o mercado analisar e escolher é razoável; no caso de um fork, basta manter os dois tokens e esperar a decisão ser tomada. Entretanto, não estamos num mercado plenamente eficiente ou informado, conforme visto na última coluna. Não há grandes garantias que o mercado avalie racionalmente as tecnologias. Isso não é um grande problema quando a tendência geral é de subida, porém no bear market que vivemos, há alguma possibilidade de um fork pode reduzir o hash power sem subida nos preços (ou perspectiva de subida) que justifique a entrada de novos mineradores de maneira suficiente para as redes serem razoavelmente seguras. Se a aquisição de ASICs ou locais com energia elétrica barata for suficientemente cara, isso pode vir a ocorrer. A estrutura do mercado, mais do que nunca, importa fundamentalmente.

Dessa maneira, creio válido olhar com certa apreensão os hard forks propostos. Apesar da discussão técnica ser oportuna, o momento de mercado apresenta um risco para dissensos. Não é sensato afirmar que esse risco é inevitável, porém uma estratégia mais razoável pode ser a união ao redor de pontos secundários onde há concordância e postergação do hard fork para algum tempo mais propício. Entretanto, a disputa entre desenvolvedores não é uma questão de racionalidade financeira ou econômica, e sim política. Infelizmente, Craig Wright não é exatamente conhecido por ser fácil de lidar ou por cultivar boas relações no meio de criptoativos, sendo mais aliado a outros “do contra”. Nesse caso, seu papel no Bitcoin Cash terminou por desagregar o criptoativo. Na próxima coluna pretendo discutir em maiores detalhes os aspectos tecnológicos desse hard fork, porém expresso aqui meu ceticismo quanto à necessidade de separação.

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