Um ativo digital, como produto de tecnologia, precisa de uma estrutura relativamente sofisticada. Entretanto, da perspectiva de investimento, uma certa imutabilidade e robustez a novas falhas também é atraente: a maior criptomoeda, o , segue esse princípio e permanece desde sua criação o mais importante ativo de sua categoria. Podemos nos perguntar até quando isso será verdadeiro, mas, por enquanto, há alguns motivos para acreditar que inovação não é o único fator relevante para um criptoativo.

No entanto, quando um ativo não inova e ainda é acusado de plágio de tecnologias antigas e problemáticas, há motivos para se ter, ao menos, o alerta amarelo ligado. É o caso da criptomoeda TRON, cuja mainnet foi lançada recentemente e teve sua independência da rede – onde era um token ERC20 – no dia 25. Essa criptomoeda, apesar de seu líder carismático Justin Sun e de um lançamento mais estável que a da concorrente , parece ter críticos com argumentos plausíveis. Nesse texto avalio algumas dessas críticas a fim de explorar a geração de valor que a rede pode trazer.

Lucas Nuzzi, pesquisador de criptoativos da ótima Digital Assets Research, afirmou em seu twitter que grande parte das tecnologias envolvidas na TRON é copiada de competidores. Se fossem apenas plágios simples já seriam graves, mas não afetariam tanto o desempenho da criptomoeda e, apesar de riscos nos tribunais, poderiam significar usar algo consolidado e bom. O problema é que as tecnologias copiadas foram baseadas em estruturas passadas comprovadamente problemáticas, sem grandes melhorias.

O protocolo TRON guarda semelhanças com uma das implementações mais antigas do Ethereum, a EthereumJ, baseada em Java. A EthereumJ já foi popular no começo do Ethereum, porém sofria problemas que a fizeram ser considerada até hoje não confiável. Pode-se argumentar que usar Java, linguagem com ampla aceitação e comunidade, traz vantagens. Porém, a própria história do Ethereum mostra que isso não é motivo para um projeto suceder, com outras implementações superando a EthereumJ em confiabilidade e adoção.

Uma diferença clara em relação ao Ethereum é, no entanto, uma forte aproximação rumo ao EOS. O sistema de consenso da TRON terminou por ser a Delegated Proof-of-Stake, mesmo adotado pela concorrente. Apesar do lançamento da EOS estar sendo traumático, não sou crítico do sistema () e vejo como desejável o lançamento de uma outra plataforma usando a tecnologia. Creio que a TRON poderá, na pior das hipóteses, servir como mais um experimento para essa forma de consenso. Entretanto, mesmo nisso a TRON parece ter problemas. Aponta Nuzzi que o sistema possui grande concentração de tokens em poucas carteiras, o que viesaria a segurança do sistema Delegated Proof-of-Stake. Em todo o caso, mesmo insegura, a plataforma suporta 2.000 transações por segundo de acordo com seu website como consequência dessa escolha.

Sua capacidade de transações – uma das maiores por enquanto – mostra que, se bem-sucedida no curto prazo, a plataforma terá tempo para se desenvolver e resolver os problemas relacionados ao que copiou de pior do Ethereum. Vale notar que a , outro criptoativo chinês, anunciava uma taxa similar e teve falhas relativamente críticas que sugeriam capacidade menor. Contudo, uma das principais características para avaliar o potencial financeiro de uma criptomoeda é sua comunidade e desenvolvimento no GitHub. Os números da TRON nesse sentido são impressionantes, porém, por enquanto, não se refletiram em inovações reais ou discussões interessantes de longo prazo, sugerindo que apesar da quantidade, talvez haja uma fraqueza qualitativa.

Por fim, a TRON é um projeto que levanta paixões. Alguns defendem fortemente, outros acreditam que o plágio e aparente limitação técnica no desenvolvimento é motivo para descartar a iniciativa. Tendo a concordar mais com os pessimistas, porém acredito que valha a pena observar a TRON. Com os problemas do EOS ainda por se resolverem, haver mais um ativo baseado em Delegated Proof-of-Stake é importante para avaliar a tecnologia. É claro que seria melhor um sistema com menos falhas implementado, porém haverá motivos para dar uma sobrevida para a TRON se a escalabilidade for a prometida. Não acredito, entretanto, que um projeto tenha futuro sem um core sério. Os plágios e escolhas tecnológicas revelam algo bastante negativo sobre a TRON. Para o projeto ser bem-sucedido, acredito que provavelmente o direcionamento dado terá que mudar.

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