Ao se trabalhar no mercado financeiro com criptomoedas, se percebe que há diferenças fundamentais entre gostar de uma tecnologia – e as características de engenharia e desenvolvimento que nos fazem gostar delas – e o que precisamos saber para um aplicativo descentralizado ser sustentável a longo prazo. Uma tecnologia pode ser maravilhosa e ofertar muitas possibilidades. O papel do engenheiro e cientista da computação é desenvolver essas ofertas. Sem criptógrafos geniais, jamais teríamos a blockchain e toda a computação que permite nossa vida mais confortável.

“Contudo, quando essas tecnologias vão a mercado, há outro fator importante. Sem o lado da demanda não há preço elevado, e isso limita a adoção por investidores. O que causa a demanda, no entanto, depende de duas entidades complicadas: consumidores e investidores. Engenheiros podem e devem trabalhar como acessar esses clientes, minimizar seus riscos e desenhar melhores interfaces: atingir a demanda é uma meta fundamental para qualquer um interessado em ter seu projeto bem-sucedido. Infelizmente, consumidores não são lineares, assim como investidores. Tentar prever o que é desejado é das tarefas mais difíceis de qualquer negócio.”

Por essas questões, economistas neoclássicos treinados em faculdade têm uma frustrante lição ao trabalhar com quase todos os modelos: as preferências estão dadas. Esses economistas não tentam modelar o que faz alguém gostar de algum bem de consumo, eles simplesmente assumem que as pessoas gostam do que elas gostam. Parece tautológico, porém é extremamente conveniente. Podemos dizer que, de outra maneira, eles perderiam muito tempo com fenômenos onde há grandes ruídos e é tudo fruto de processos complexos como cultura, interações sociais imprevisíveis e sorte. Podemos viver assumindo essa simplificação e a ciência econômica avança apesar dessa limitação do conhecimento humano.

No entanto, o problema da criptoeconomia começa quando a própria tecnologia depende desse fator imprevisível. Por exemplo, uma blockchain depende da demanda por tokens. Para minerar eu devo acreditar que o custo da mineração é menor do que o que ganharei vendendo os tokens minerados. Naturalmente, isso é função da quantidade esperada de tokens e do preço deles em dinheiro corrente. Ao economista, cabe assumir que o minerador gosta de receber dividendos de sua atividade e tentar derivar o que conseguir dessa observação.

Um bom estudo de caso é uma tecnologia como a Lightning Network. Para escalar o número de transações, ela pode reduzir a quantidade de fees para mineradores, afinal transações anteriormente validadas por eles serão feitas fora da blockchain. Há, portanto, maior risco para mineradores e menores incentivos para a mineração. Da perspectiva engenharia, a Lightning Network é, aparentemente, irrepreensível. Há críticas pontuais, porém de maneira geral é bem-avaliada e a se aproxima de tentativas de replicá-la via Raiden Network. Entretanto da perspectiva do mercado, parece ainda falhar. Há um aparentemente conflito entre a economia e a engenharia de software. Isso se verifica em muitas propostas feitas por core developers e o debate sobre concentração de mercado, conforme .

Quando falamos do desenvolvimento de aplicativos descentralizados, a questão fica ainda mais complicada. Já há alguma preocupação com o design de incentivos para a adoção de um token, porém, há pouquíssima atenção com o quanto esse token pode se valorizar em um mercado bear. Um caso interessante é o do Augur. Seu principal token, o REP (Reputation, foi extremamente bem desenhado e permite acreditar que haverá honestidade no sistema em grande parte das apostas. Entretanto, seu preço em relação ao Ethereum não aumentou desde seu lançamento: há ainda poucos incentivos para se tentar adquirir o que seria reputação para definir outcomes de apostas; a depender de quem capture valor – plataforma ou app – poderá haver alguma facilidade para formação de cartéis quando houver temas polêmicos. O desbalanço de preços em um bear market futuro pode levar a formação de whales no mercado de previsões do Augur.

Em última instância, o que determina a viabilidade de um criptomercado é o preço de seus tokens. Por mais que os players entrem a longo prazo – e a parceira de site Tanzel Akhtar – deve-se lembrar que, para valer a pena, o investimento deverá se pagar. O lucro é uma restrição para quase toda atividade econômica e os aplicativos descentralizados não são exceção. Tomar certos problemas como dados e tentar pensar em resolver como lidar com eles pode ser duro, mas é fundamental para dApps prosperarem. Enquanto não houver alguma robustez a fenômenos de mercado, poucos projetos serão confiáveis, por mais interessantes que sejam.

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