Um debate que sempre inflama economistas tradicionais é o envolvendo análise técnica de ativos. Há inúmeras páginas na internet dando análises que, supostamente, preveem retornos; há, também, outro grande volume de imagens com padrões claramente inventados apenas para debochar dos analistas técnicos – um dos meus favoritos é a imagem do gráfico da criando os contornos do Doge, por exemplo. A desconfiança dos economistas vem de testes sobre a hipótese dos mercados eficientes, que diz que informação pública passada possivelmente não influencia os retornos atuais. Entretanto, há também testes por economistas renomados – Frank Allen, da Wharton Business School, por exemplo e Andrew Lo, do MIT – que confirmam que há algum poder de previsão em regras de trading simples.

DogeCoin

No mercado de criptoativos, parece haver espaço para regras simples de trading, segundo artigo que investiga o uso de regras de médias móveis. No que diz respeito a , quando se supõe um modelo de agentes heterogêneos com algumas outras condições, regras de média móvel fazem parte da estratégia de investimento ótimo. Os resultados empíricos são bem positivos no que diz respeito ao uso dessas estratégias também, mostrando alguma consistência da abordagem.

Vale notar, no entanto, que condições do mercado mudam; esse resultado também é válido apenas para o Bitcoin na ausência de mais testes a respeito de outros criptoativos. É possível esperar que valha para outros ativos basicamente por acreditar que eles são mais ineficientes. Com menor volume, porém, há também maior espaço para manipulações de mercado. Estratégias de Pump-and-Dump aumentam o valor apenas para revertê-los posteriormente. Nesse caso, uma estratégia pura de média móvel pode ser insuficiente para obter retornos fortes, cabendo o uso de outras métricas de reversão como o Índice de Força Relativa. Percebe-se que a análise técnica pode ser uma fonte de informação para investidores somente se bem calibrada.

Particularmente, não sou muito afeito a análise técnica de ativos como uma técnica isolada para criação de algoritmos de trading – prefiro sempre combiná-la com abordagens quantitativas como redes neurais, modelos de volatilidade e similares –, porém não nego que possa haver possibilidades de retornos anormais no curto prazo considerando as ineficiências do mercado. Entretanto, não acredito que essas ineficiências serão sempre exploráveis quando o mercado for se consolidando. Conforme o mercado ganha liquidez e eficiência, muitos dos princípios que sustentam indicadores podem ser quebrados.

Um termo de compromisso entre a economia tradicional e a prática de diversos investidores pode ser: a análise técnica tem potencial de uso em mercados mais ineficientes. Nesse caso, estudar sempre como o modelo de trading pode ser aprimorado ou – eventualmente – abandonado é fundamental. Acompanhar o quanto um indicador mostra entradas ou saídas falsas é tão ou mais importante quanto o resultado final do backtest. Nesse caso, maior cuidado no uso dessas estratégias é necessário, porém isso não condiz com as muitas análises que encontramos na internet. Há testes econométricos que permitem acompanhar essa evolução e se o modelo de previsão não foi puramente sorte do analista, portanto a cada análise vale pensar em usar esses testes para garantir que a regra faz algum sentido para o mercado. Mesmo análise técnica pode ser usada com mais refinamento, e estudar essas ferramentas de checking traz benefícios aos interessados.

Por fim, escrevo esse texto como um aviso: conforme o mercado cresce, retornos anormais fruto de ineficiências ficam mais escassos. A evidência atual parece favorável a investidores baseados em análise técnica, porém cuidados ao avaliar a própria estratégia devem ser tomados. Ao contrário do que membros mais fervorosos da eficiência de mercado pensam, pode haver diversas abordagens para ter retorno em criptoativos por agora. Eu tendo a preferir as algorítmicas e as de longo prazo, porém enquanto o mercado for ineficiente há outras opções como arbitragens simples e trading técnico. Finanças é um meio onde há aleatoriedade, fenômenos inesperados e uma série de outras complexidades: fé excessiva no funcionamento de uma ferramenta não condiz esse ambiente. A única característica que realmente sempre ajuda a manter uma dianteira nos seus trades é reconhecer os próprios limites e duvidar sempre das próprias convicções, seja para analistas técnicos ou para qualquer outra escola de pensamento.

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