STOs prometem revolucionar o mercado em 2019. Aprenda o que são e conheça o primeiro projeto do Brasil
Os Security Token Options (STOs) são um dos temas mais comentados no mercado de criptomoedas e devem ser uma das grandes tendências para 2019. Nesse artigo apresentarei o projeto da primeira captação de investimento do país registrada na blockchain e explicar como abre um caminho para o desenvolvimento de um mercado financeiro mais eficiente por aqui. Mas antes de mais nada, comecemos com um breve resumo sobre tokens e ICOs.
Sobre tokens e ICOs
Com o surgimento das plataformas de contratos inteligentes (smart contracts), sendo a principal delas a rede , abriu-se a possibilidade de criação de novos criptoativos em cima de uma plataforma já existente, chamados de tokens.
Um token pode ser lançado com muita facilidade, pois utiliza a infraestrutura da blockchain do Ethereum, esta servindo como uma plataforma de desenvolvimento. Uma aplicação possível de um token é a criação de um programa de milhagem inteligente, que não dependa de um intermediário fazendo a gestão do programa (troca de milhas entre pares, controle da emissão de milhas, etc.). A gestão do programa passa a ser realizada automaticamente por um contrato inteligente, ou seja, por um software, que está rodando na blockchain. Isso ampliou massivamente as possibilidades para aplicações da tecnologia blockchain em diferentes segmentos e fez aflorar milhares de projetos nos últimos três anos.
Nesse contexto surgiram os ICOs (initial coin offerings), em que projetos realizam uma pré-venda desses tokens. É como se esse programa de milhagem, antes de ser lançado, fizesse uma pré-venda de suas moedas digitais em uma plataforma de financiamento coletivo, como o Kickstarter ou Catarse, porém com alcance global e pagamento via criptomoedas. Depois, utiliza o dinheiro captado para financiar o projeto e ainda cria uma rede de apoiadores aptos a usar o programa quando ele for lançado.
Problemas começaram a acontecer quando empreendedores e apoiadores passaram a utilizar esses tokens como ativos financeiros. Os recursos captados estavam se tornando uma espécie de investimento, pois pagavam o desenvolvimento dos projetos e havia uma expectativa de valorização desses ativos para serem vendidos em mercados secundários. Ao invés dos apoiadores buscarem por descontos, estavam buscando lucros rápidos.
O mercado de ICOs explodiu. Foram mais de US$20 bilhões de dólares captados por mais de 1000 projetos entre 2016 e 2018.
Crowdfunding do Basement
Esse desvio de finalidade, porém, violou as leis do mercado financeiro de diversos países. Se era um ativos financeiro, deveria ser regulado.
Ao longo de 2018, centenas de projetos receberam cartas da SEC (a agência reguladora do mercado financeiro americano) por terem infringido as leis de valores mobiliários. Por esse motivo, diversos ICOs tiveram de ressarcir seus investidores iniciais e muitos passam por disputas judiciais.
Nós do Atlas Quantum temos como principal responsabilidade não entregar prejuízo para nossos clientes, por isso nesse momento optamos por operar somente com , que além de ser uma das principais portas de entrada para ICOs e STOs, nos permitiu entregar mais de 62% de rendimento aos nossos clientes em 2018. Mas é claro, acreditamos no futuro da blockchain e apoiamos toda iniciativa no setor.
O surgimento dos security tokens
Devido a esses desvios com a tecnologia dos tokens, o mercado começou a se adaptar. De um lado, projetos passaram a seguir regras mais restritas para venderem seus tokens sem serem considerados ativos financeiros.
E de outro, alguns empreendedores resolveram lançar um token, que seria de ligado a um ativo financeiro. Esses são os security tokens. Security, em inglês, é um valor mobiliário, ou seja, um ativo financeiro, como dívida, participação, etc.
O primeiro desses projetos foi criado pela Blockchain Capital, que realizou a captação de US$10 milhões para o seu fundo de venture capital por meio de tokens.
Esses tokens são a representação digital de ativo existente no mundo real. Isso traz três principais vantagens:
Acesso: a representação por tokens pode tornar possível “fatiar” um ativos em mais partes, processo chamado de securitização, com um custo menor. Isso daria a possibilidade, por exemplo, de dividir um contrato de dívida com uma empresa
Liquidez: Ficam mais fáceis de serem transferidos, cria-se um mercado secundário mais facilitado e direto e aumenta a divisibilidade desses ativos, dando mais acesso a novos e menores investidores.
Registro: a blockchain dá mais transparência para os registros da captação. É possível ver quantos investidores estão investindo em cada ativo e qual a concentração desse investimento. Você pode acompanhar a os detalhes da blockchain Capital nesse link. Atualmente são 812 investidores.
O projeto da Kria/Basement
A plataforma Kria (antiga Broota) foi a primeira plataforma de crowdfunding de investimentos do Brasil, onde qualquer pessoa pode investir em novas empresas a partir de R$500. Já realizaram mais de 70 rodadas de investimento e ajudaram empresas a captarem mais de R$30 milhões.
Eles estão agora captando uma nova rodada de investimentos no valor de R$1,5 milhão e por estarem no mercado de investimentos, decidiram inovar e realizar a captação por meio de um security token, o primeiro do país. Nesse link você tem acesso ao white paper.
Metade da rodada (R$750 mil) está sendo captada de pequenos investidores por meio da plataforma. Os investidores, como é comum no mercado brasileiro, terão uma dívida conversível em participação na empresa. E esse instrumento de dívida é que foi tokenizado, ou seja foi emitido um token na blockchain do Ethereum, que funciona como uma representação digital do título.
Até o momento da publicação desse artigo, tínhamos 163 investidores já com o token em mãos, de acordo com as informações públicas da blockchain, que podem ser encontradas aqui.
No caso do token emitido pelo projeto, não haverá mercado secundário, pois este é vedado pela Comissão de Valores Mobiliários. A utilidade do token ainda será bastante restrita. Mas terá um objetivo educacional importante com o mercado e com os reguladores e deve tornar mais fácil também a transferência dos títulos entre os próprios investidores da rodada.
Infelizmente ainda existe pouco conhecimento dos investidores tradicionais de como operar no mundo blockchain e gerenciar carteiras, chaves, hashes, etc. Mas alguém tem que ser o pioneiro e desbravar o mercado. Especialmente nesse mercado novo, onde não existe uma regulação específica que permita utilizar os security tokens no seu máximo potencial.
E o futuro?
Inicialmente, como no caso do projeto da Kria/Basemente, os tokens não vão substituir os sistemas tradicionais. Serão uma redundância online, uma representação digital única e imutável.
Estamos ainda longe da era onde 100% do nosso dinheiro, ativos e bens serão transacionados e gerenciados digitalmente, e potencialmente sem ou com menos intermediários. Aos poucos, os mecanismos e contratos do mundo físico serão substituídos por equivalentes do mundo digital. Já existem movimentos sendo realizados pelas principais bolsas de valores do mundo, como NYSE, LSE e para incorporar o blockchain como infraestrutura dos seus processos de registro e transações.
No futuro teremos empresas e fundos de investimento sendo criados de forma autônoma, sem fronteiras, com baixíssimo custo e levantando recursos de investidores em qualquer lugar, tudo regido por contratos inteligentes.
Mas o projeto é emblemático e coloca o Brasil no mapa de países que estão aplicando a tecnologia blockchain para transformar e aprimorar o mercado financeiro.