Numa semana com o fork do – já negociado em exchanges como a Poloniex – é difícil não comentar o ocorrido. Nessa coluna, já escrevi dois textos antevendo as inovações e importância desse fork para a comunidade (os artigos podem ser vistos e ). Entretanto, conforme se consolida essa ruptura, há certas questões que devem ser tratadas, ainda que de maneira experimental. A principal é sobre como certas redes evitam forks expressivos, enquanto outras parecem se desmanchar mais facilmente.

Bitcoin Cash Gráfico Diário

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Quando houve o hard fork do , houve também uma clara justificativa exógena: um hack da magnitude do TheDAO não é trivial. A criação do Cash, também não foi uma decisão fácil e respondia a um problema geral. Contudo, no fork do Bitcoin já havia um problema claro: nenhuma das soluções era claramente satisfatória. No Ethereum, ao desfazer o hack já estaria resolvido o problema para a maioria. No Bitcoin, aumentar o bloco ou esperar SegWit e second-layers já não resolvia de maneira satisfatória o problema.

O BTC ao adotar a segwit assumiu que não tinha grandes problemas de não ser facilmente transacionado no curto prazo. Soluções como a Lightning ficariam para o médio prazo. O BCH assumiu, de certa maneira, um papel algo corajoso posto que muitos viam o maior tamanho de bloco com desconfiança: ele buscaria soluções de curto prazo e on-chain. Essa posição foi interessante e, apesar de derrotada frente ao market cap do Bitcoin, não pode ser considerada um fracasso financeiramente. Contudo, ao se observar o número de transações, vemos que o tamanho do bloco – e sua maior capacidade com menores fees – não foi o bastante para motivar os usuários a migrarem de uma rede para a outra.

Cada vez mais, portanto, precisamos de outras explicações além das tecnológicas para entender como uma criptomoeda será recebida pela comunidade de consumidores, investidores e desenvolvedores. O que seria a missão e visão de Craig Wright em seu Bitcoin SV? No que aumentar o bloco – sendo que atualmente o tamanho do BCH já é mais do que satisfatório – ajudaria a chegar nessa visão? Não há respostas claras para isso. Além do mais, conforme discuti anteriormente, Craig Wright é um desagregador e possivelmente não possui bons atributos para liderar um projeto coletivo.

O interessantíssimo projeto da Bitcoin ABC encara outro desafio. Apesar de seu roadmap claro e bem detalhado (que pode ser visto aqui), a Bitcoin ABC peca pela ausência de uma figura pública que fomente uma comunidade para tornar os planos de desenvolvimento mais factíveis e condense as expectativas ao redor da visão. Um dos conceitos mais fascinantes da teoria dos jogos é o de Schelling Point. Na teoria dos jogos, um ponto de Schelling é uma solução que é normalmente usada na ausência de comunicação, porque parece natural, especial ou relevante para elas. Um bom líder de criptomoedas serve para indicar esse ponto focal.

Não podemos esquecer que software livre tira sua força de descentralização e coordenação de pessoas que não se conhecem e agem com coordenação central relativamente pequena. Um líder precisa possibilitar uma coordenação sem coerção; isto é, se adaptar às demandas de pessoas talentosas e bem-intencionadas. O Bitcoin Core é altamente admirado, Vitalik Buterin e os core developers do Ethereum também, mesmo com investidores. A Bitcoin ABC é extremamente capacitada e tem planos relevantes. Ela conta também com grandes mineradores a seu lado. No entanto, falta um líder que chegue aos investidores e dê pontos focais de maneira clara. Não sem razão, o fork proposto pelo grupo não foi consensual dessa vez. A tecnologia parece interessante, entretanto na ausência de um ponto focal, será difícil esperar que a moeda tenha altos preços para garantir interesse prolongado nela.

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