Um debate que foi algo forte em 2017 e parece sumido é a respeito de um único criptoativo dominar o mercado, numa situação análoga a um monopólio. Esse ativo evidentemente não impediria a livre-entrada no mercado, com forks e novas tecnologias, nem teria grande poder de extração de renda dos usuários, porém teria efeitos de rede, marca e capacidade tecnológica para tornar os demais desinteressantes para consumidores e investidores. A essa possibilidade foi dado o nome de Maximalismo.

Por muito tempo, o apresentou dominância maior que 80% sem grandes dificuldades ou competidores, levando a proponentes do Maximalismo Bitcoin, porém no meio do ano passado, mais precisamente entre março e junho, sua dominância despencou para abaixo de 50%, com forte crescimento do . Nessa época, a questão para alguns analistas deixou de ser se o Ethereum passaria o Bitcoin, mas quando, afinal sua tecnologia era superior e tudo que o Bitcoin faz, o Ethereum faz também (um relato interessante é esse texto). Nesse caso, o Ethereum seria a moeda maximal.

Atualmente, nenhuma das duas moedas apresenta grandes concentrações, porém o Bitcoin se saiu melhor. Correspondendo a cerca de 55% do mercado, o Bitcoin é o maior ativo digital mesmo com as suas claras limitações sobre escalabilidade e possibilidades de scripting. Recentemente, com o desinflar da bolha estourada em janeiro, o Bitcoin voltou a subir em participação no mercado. Poucos concorrentes têm subido nesta fase. Será que o maximalismo Bitcoin faz algum sentido ainda?

O antigo maximalismo Bitcoin era pautado na possibilidade de tecnologias off-chain alavancarem o ativo sem afetar sua confiabilidade. Os investidores e consumidores naturalmente prefereririam o Bitcoin justamente por ser uma rede já estável e fortemente utilizada. Nesse argumento, há implícita uma aposta em dois elementos objetivos da rede do Bitcoin: certa imutabilidade do seu ativo base, com um avanço tecnológico suficiente para os demais criptoativos serem considerados desnecessários,

Ao passo que o avanço desejado para o Bitcoin não veio tão rápido, as promessas do Ethereum e demais criptoativos também não se concretizaram. Não há DApps realmente úteis pipocando por aí, não há real demanda por transações com e , teve diversos problemas técnicos. Considerando isso, fica somente a imutabilidade do Bitcoin, e ela parece render frutos. Como nada em termos de valor de uso se desenvolveu, o grande valor do Bitcoin e demais criptoativos é de serem reservas de valor descentralizadas, relativamente fáceis de ocultar e transacionar. Não é necessária uma grande tecnologia além da blockchain pública para isso, nesse caso o determinante é a confiança que as pessoas ainda têm no Bitcoin.

Entretanto, isso não precisa — e não deve — ser para sempre. Os times de desenvolvimento buscam novas tecnologias descentralizadas escaláveis. Ao passo que isso não se concretizou, nunca se teve tantos projetos relevantes. Dentre eles, há a tecnologia Sharding para o Ethereum e mesmo novos protocolos como o Avalanche. Sinceramente não creio que todos esses projetos vingarão, porém é não há como negar que são projetos críveis. Esses desenvolvimentos, no entanto, são só possíveis quando as soluções adotadas são algo mais arriscadas que o core do Bitcoin costuma aceitar.

Pode-se afirmar, portanto, que há uma dualidade no que poderia puxar o surgimento de alguma criptomoeda maximal. De um lado, a aversão a risco em relação a novas tecnologias ou a algum time de desenvolvimento traria valor para criptoativos de projetos mais conservadores; por outro, o surgimento de uma nova tecnologia realmente funcional poderia mudar o jogo. Ambos os processos são dinâmicos, porém é possível acompanhá-los, posto que as tecnologias avançam de maneira perceptível.

Tendo em vista isso, não vejo maximalismos fazendo sentido no curto e média prazo. Ainda não há uma promessa capaz de mudar a área completamente em três anos, fazendo os outros ativos inúteis. A aversão ao risco também não tira a demanda por inovação que a maioria dos entusiastas de criptoativos têm hoje em dia. Nenhuma dessas características é suficientemente forte para puxar a dominância para um monopólio rapidamente. A longo prazo, a discussão é outra, porém com um bom estudo sobre os ativos e seus roadmaps não é impossIvel se preparar para esses cenários. Por agora, um portfólio bem construído e trading bem pensado continuam me parecendo melhores que a aposta em alguns poucos projetos com potencial maximal.

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