A pessoa que me apresentou os criptoativos é, possivelmente, descrito como gênio por alguns – em especial seus alunos, eu inclusive – e paranoico por outros que não conversam mais em profundidade com ele. No surgimento do , discutir sobre criptografia capaz de garantir dinheiro independente de governos certamente soaria papo de maluco e, para se interessar nisso antes de valer dez dólares, não sem razão. Esse professor tinha duas características que o levaram a investir: a primeira era realmente ele procurava entender a tecnologia (e tinha formação acadêmico) e a segunda era se preocupar com quanto governos podem fazer com nossas vidas e economias.

Chegando próximo da eleição, essa segunda característica vem muito em minha mente. Seja qual for nossa opinião sobre os candidatos, é bem infrequente que pessoas gostem de Bolsonaro e Lula ao mesmo tempo dadas suas taxas de rejeição. Em outras palavras, há um empate técnico e riscos altos de um candidato indesejado assumir. As consequências são diversas: Haddad é de um partido que elogia a Venezuela, propõe constituinte e plebiscitos, similar aos países Bolivarianos; Bolsonaro propõe mudanças no STF e seu vice já fala sobre auto-golpe. Enquanto isso, há projeções nefastas por diversos economistas de peso enquanto a economia não é discutida por nenhum dos candidatos.

Posso estar soando algo paranoico com os rumos da economia do Brasil*, porém esse é o dever de quem trabalha com risco. Nesse panorama que desenho, as criptomoedas podem ser uma ferramenta a favor de quem procura alocações simples e independentes das loucuras de qualquer governo. Uma das expressões mais utilizadas em discussões com estrangeiros sobre criptoativos é “fonte não correlacionada de retornos”. O Bitcoin e demais criptomoeda são ativos que não se relacionam fortemente com a economia americana, ouro e demais investimentos. Nesse caso, eles num portfólio podem atuar como ferramentas de hedge.

Numa eventual crise nos EUA – já prevista por alguns analistas, mas confesso estar por fora dos argumentos – possivelmente haverá alguma demanda maior por esses criptoativos como proteção, puxando os preços. Nesse caso, para brasileiros, os criptoativos fazem sentido como um investimento também. Apesar desse ano ter sido ruim e os preços terem desabado desde o fim da bolha, o Bitcoin foi capaz de preservar valor. Vale (SA:) perceber que, se comparado a um ano atrás, ele se valorizou. Com alguns tail risks, pode haver alguma valorização ou, na pior das hipóteses, um ativo que diversifica e facilita a exposição cambial por investidores daqui.

Apesar de bem preocupado com as incertezas eleitorais, vejo que estamos num momento melhor que há muitos anos: há ferramentas de criptoeconomia para nos protegermos de uma eventual crise. Alocações sensatas em ativos de hedge são desejados e creio que o Bitcoin e demais ativos digitais podem ser funcionais nessa tarefa. Nisso, alguma desconfiança em relação aos governos se faz fundamental: precisamos nos proteger um pouco do incerto. Nisso, alocações sensatas em criptoativos pode fazer toda diferença.

*Essa coluna não trata de macroeconomia, mas segue uma breve discussão do cenário que vejo. A primeira questão é que haverá imediatamente uma dificuldade de respeitar a PEC do Teto e demais mecanismos constitucionais já no ano que vem. Se eles forem desrespeitados, além de algum mal-estar institucional haverá expectativas negativas sobre essa falha. Entretanto, o PIB está reprimido e capital físico ocioso: há algum potencial para amortecimento da queda e, talvez, até crescimento no curto prazo. Por sua vez, o cenário de longo prazo é mais tenebroso. Se não for resolvida a questão previdenciária, há projeções que indicam inflação de dois dígitos em 2022. Além do mais, propostas de aumento de produtividade são fundamentais para o crescimento ser duradouro e, da parte Haddadista, não vi ainda nenhuma discussão nessa linha; Paulo Guedes tem propostas mais críveis, mas ainda não apresentou garantias de execução. Concluindo, há riscos de aprofundamento da crise, mas – como costumo dizer – isso são riscos, não certezas..

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